sábado, 18 de fevereiro de 2012

Carnaval Inesquecível

Como o mundo sempre girou repetidamente, nós aqui seguindo o ritmo, repetimos também! Documentário sobre o Mangue bit.


domingo, 4 de julho de 2010

Amigos de Isopor
















Tenho vários amigos defensores da natureza via internet. São pessoas da pior espécie. Amar a natureza pra eles é gostar daquele monte de arvorezinhas que ficam lá na floresta que é um lugar cheio de bichos e rios. Normalmente esses mesmos amigos sonham em comprar aqueles carrinhos modernos meio caminhonete, meio carro de passeio, que cospe diesel pra todo o lado. Muitos deles não sabem o que é coleta seletiva de lixo, outros nem sequer sabem que o franguinho a passarinho que acompanha o chop vive por 40 dias antes de morrer e que tem basicamente hormônios dentro da carcaça penosa. Entopem-se de agrotóxicos quando pensam no futuro, nos bons momentos em família que pretendem desfrutar, realizando portanto uma dieta balanceada sem carboidratos. Seus filhos talvez nem saberão que a carne que comem vem de animais, e que o boi ou porco desfrutado no domingo seja um dos motivos pra ele viver dentro de uma estufa usando roupas especiais que o protegem do sol cancerígeno. Eu e meus amigos. Talvez eu os mereça ou talvez eu não faça nenhum esforço pra encontrar melhores companhias. Acredito que ainda tenho escolhas que me guardarão durante a jornada misantrópica na vila feliz.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Estudos Avançados



















"Eles não suspeitam que nós lhe trazemos a peste", teria dito Freud a Jung ao desembarcar em Nova York

terça-feira, 11 de agosto de 2009

MC Ajuda



















Minha razão de ser é social. E social sendo, vivo buscando uma forma exercitar minha caridade. Em tempos de 'criança esperança', lanço eu minha campanha! Uma série de postagens com músicas-de-auto-ajuda de minha criação. A primeira foi moldada pro sujeito urbano-megalopolitano que respira fumaça de escape e vive numa caixa de fósforos. Foi batizada de "Oração do Relaxamento". Tenho certeza que fará bem a todos que padecem dos males pós-modernos! Abraços e muita luz pra todos






sexta-feira, 31 de julho de 2009

terça-feira, 30 de junho de 2009

Vá pra merda com o rei do pop! ###01


Deitei durante a tarde de domingo para um breve cochilo e fui levado de súbito pra um lugar que desde os meus nove anos não freqüentava em pensamento. Era uma casa velha, na verdade ainda não se configurava como casa pois haviam dado início a construção que logo foi abandonada por falta de dinheiro. A casa ficava localizada em meu bairro e pertencia a um amigo de meu pai. A obra ficou interrompida por uns dois anos e dentro desse tempo muitas coisas aconteceram na casa sob meu testemunho. Mas o que me veio enquanto sonhava, foi um episódio marcado pela violência e falta controle típico da infância. Por esta época estavam alojados na casa três homens que passavam a maior parte do dia, para não dizer o dia todo, bebendo alguma coisa que na minha região é chamada de “Corote”: um pequeno recipiente de plástico, cerca de 500ml, em formato de barril, contendo álcool pronto para consumo. Certa noite como era de costume fui até a casa de meu vizinho, Márcio, para saber o que faríamos, ele era o nosso mentor. Digo nosso, pois a turma era composta por quatro pessoas: Márcio, 16 anos; Alessandro, 14 anos; Rogério 12 anos; e eu 09 anos. Nossa turma era bem diversa, Márcio era um sujeito muito inquieto, o que despertava minha admiração pois sempre estava envolvido com alguma coisa que meus pais jamais permitiriam que eu fizesse. Alessandro era um garoto criado numa família completamente desestruturada, o pai estava preso, a mãe envolvida com tráfico de drogas, e ele acabou por conseqüência fazendo pequenos fornecimentos de substâncias ilícitas no bairro onde moravamos. Rogério, era um garoto que não possuía limites, tinha o interesse voltado para situações proibidas, um moleque que os psicólogos diriam “não teve a interdição do pai”, realmente não teve, pois o mesmo faleceu quando ele tinha apenas 3 anos. Já eu não tinha nada de interessante, comparado aos meus amigos, justificado pela pouca idade e pela minha família que pode-se dizer fez tudo a seu alcance pra que eu fosse um pessoa “normal”. Somente tinha liberdade para circular entre essas pessoas pois meu pai era considerado louco naquela vizinhança e portando era temido não só por mim como por uma boa parte das pessoas que ali residiam inclusive os meus amigos. Mas voltando ao sonho que tive, era uma noite tranqüila e fresca típica da primavera, quando fui até a casa de Márcio e de lá saímos para encontrar os outros dois moleques. Quando nos encontramos os três decidiram que iríamos conseguir dinheiro naquela noite e a forma de faze-lo seria extorquindo os bêbados que estavam na casa abandonada, e que deviam ter algum trocado proveniente de esmola. Mesmo com todo o receio que possuía segui na empreitada junto com meus camaradas. Chegamos lá e eles estavam dormindo completamente bêbados......

sábado, 2 de maio de 2009

Cada época tem o seu titanic















































"Numa daquelas noites empolgantes encontrei uma amiga no messenger e começamos a gastar o tempo. Não nos víamos e nem nos falávamos fazia uns dois anos. A garota é nova tem 22 anos e poucas experiências, digo aquelas que fazem você ter um olhar carinhoso pelo que vem lá do vaticano. A certa altura ela começa a falar de suas últimas leituras, de seus discos, filmes e é daí que surge o tal 'crepúsculo'. Alguma coisa vampiresca, o mesmo velho roteiro blasé. Tentou me convencer a todo custo a apreciar a sua sugestão. Fiquei meio puto com aquilo e resolvi a questão sugerindo pra garota um filme que teria certa semelhança com o que ela indicava. Falei do '120 Dias em Sodoma'. Duas semanas depois ela deixa um recado dizendo que nossa amizade já não era tão interessante."

Fotos: Vila Mimosa SP

quinta-feira, 30 de abril de 2009

até que enfim 40


















"O mundo vivia seu 13° kaos e todos os seres tinham a chance de uma última escolha. O nosso herói, previsível como sempre, escolheu como destino o paraíso da música. Sua vontade póstuma foi autorizada e ele encontrou 20% das almas rarefeitas vivendo o mesmo sonho. Em parte ficou animado por saber que habitava entre várias figuras proféticas, muitos estavam ali por apreciarem extravagâncias que não foram suportadas pelo invólucro humano. Se havia certa satisfação esta durou pouco por continuar sem o mínimo talento para a expressão. Tentou os baldes, latas de lixo, flautas doces, tamborins e por fim cuíca. Não convenceu e continuou batendo palmas"

terça-feira, 28 de abril de 2009

pão com mortadela












"Eu vivia um profundo marasmo existencial até descobrir a safadeza contida em suas metáforas".

sexta-feira, 27 de março de 2009

The Frigidaire Girl, 1927



















Tenho sonhado com coisas estranhas ultimamente. Alças de caixão, carros com rodas largas, violões com cordas quebradas, canetas bic sem tinta (esfregando no papel pra ver se ainda sobrou, fósforos molhados, guarda-chuva quebrado, novamente o violão agora com as cordas enferrujadas, molho de tomate mofado na geladeira (uma frigidaire daquelas com alavanca). Bom, resumindo, centrei minha atenção na geladeira, não consigo viver sem ela. Até lembro das visitas a casa de meu tio avô onde podia ver a artimanha do velhote que botava carne com banha de porco pra conservar por uns dias, pois não tinha geladeira. Ainda era interessante o fato do canastrão ter uma bicicleta, mas não saber andar. Ele levava a magrela até o boteco e depois voltava de lá usando ela de apoio pra chegar até em casa. Puta que pariu, isso é que é experiência! E você aí achando que sabe de tudo! Daí consegui decifrar o elemento mais intrigante dos sonhos as alças de caixão.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Colorido













Kim Petras é a transexual mais jovem do mundo

A cantora e modelo alemã Kim Petras, 16, explicou em seu blog por que passou tanto tempo sem dar notícias: esteve duas semanas no hospital, de onde saiu como a mais jovem transexual do mundo. "Tudo correu bem e por enquanto estou feliz", escreveu Kim em novembro --antes da operação, ela havia lançado o single "Fade Away" (desaparecer).

Kim Petras, 16, começou a tomar hormônios femininos aos 12 anos de idade; no Brasil, esse tipo de tratamento é liberado aos 18 anos.

Kim começou a tomar hormônios femininos aos 12 anos, quando era Tim. "O caso, pioneiro, foi polêmico na Justiça alemã. O tratamento só poderia ser feito na maioridade, mas os médicos consultados concordaram", diz o psiquiatra Alexandre Saadeh, do Instituto de Psiquiatria do HC de São Paulo.

O transtorno de identidade de gênero pode começar aos três anos. "Mas nem toda pessoa será transexual", diz Saadeh. Por isso, é importante esperar que a personalidade esteja definida.

No Brasil, o tratamento hormonal é liberado aos 18 anos --"embora haja pessoas de 12 anos se automedicando com anticoncepcional", conta Saadeh. Para a cirurgia, o mínimo é 21 anos.

O ideal, segundo o psiquiatra, seria o tratamento hormonal antes de virem as características sexuais secundárias (como pelos), ou seja, a medicina deveria intervir antes de o(a) jovem constituir as características masculinas, como no caso de Kim, para que eles não tenham que chegar a maioridade ainda com problemas de reconhecimento. Vale lembrar que a identidade sexual se define ainda no início da adolescência, por volta dos 10 anos de idade.

A solução da Sociedade [Internacional] de Endocrinologia é que a puberdade seja bloqueada até os 16 anos. No Brasil, contudo, esse bloqueio não é permitido.

No Brasil a cirurgia de Readequação Sexual é feita pelo Sistema Único de Saúde, em casos que sejam acompanhados por médicos e psicólogos, obedecendo a um processo de contato anterior com a pessoa que deseja realizar a operação.

O intuito é não incorrer em erros. A identidade de gênero supera os limites do corpo, como construção social e cultural, a pessoa se reconhece masculino ou feminino, acompanhado por desejo sexual ao sexo aposto ao que acredita ser o sexo psicológico.


Fonte: Folha online

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009















Sabe que no 'encotro bacante nº 5' surgiu muita coisa interessante.
Foi de lá que veio o "está aberta a temporada de doação de sentido";
e também o "algumas pessoas vivem dentro de uma bolha positivista".
Pois é, a energia deste dia ecoa ad infinitum.....
"Desde as andanças em Turim alcancei o déchiffrement, agora fica difícil recuar".

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Buscando verdade


- Olha amigo, se fosse há duzentos anos eu buscaria o xamã, mas na atual conjectura chame o psiquiatra!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

meu amigo é operador de caixa eletrônico














meu amigo é operador de caixa eletrônico

sua irmã namora uma calculadora HP

Seus pais conseguiram o divórcio por

empréstimo

temos momentos sensatos

vemos um mundo certo calado

nossa maior diversão sem cevada

é falsa

nossos momentos soam

um pouco superficiais

mas acabamos encontrando

o que sempre procuramos

sorrisos e um colchão macio pra repousar

o volume da tv é tão alto que não ouvimos

seus gritos

(...)

a pobre vizinha é uma velhinha simpática

passa horas a fio imersa em conversa fiada

nossos violões gritam verdades inaudíveis

e é assim que nos sentimos

gente, com tudo aquilo que existe aqui

dentro, com tudo aquilo que transborda e

sai

precisamos de confirmação

nós buscamos qualificação

estamos no meio da liquidação

e com isso achamos o ponto

mas daí surge a vassoura

da pobre velhinha que soca a janela

que pede silêncio em pleno domingo

quem sabe o humor perdeu-se no bingo

competição, cinema, esquizofrenia e ciúmes

um belo tempero que derrete o tempo

tentamos um pós-bom-dia

mas não alcançamos o velho sargento

as porretadas na janela

entraram no ritmo,

infames despreocupados

agora calados ao som

do descompasso da ira.


domingo, 25 de janeiro de 2009

Teatro Oficina




Uma pequena incongruência no palco do Oficina

Elizabeth M. F. Araújo Lima


EVENTO:
40 anos de Teatro Oficina: abraço ao quarteirão; brinde com vinho tinto; ensaio aberto de alguns episódios de A Luta de “Os Sertões”, festa.
São Paulo, Teatro Oficina e imediações,16 de agosto de 2001.

Estávamos todos numa festa, uma grande comemoração, um ato político, um encontro de resistência. Para marcar e comemorar seus 40 anos, o Teatro Oficina promoveu um evento que era também uma forma corajosa de enfrentamento do avanço do Grupo Silvio Santos no centro da cidade. Seu esforço vinha somar-se ao conjunto de movimentos que buscam resistir ao atropelamento das potências da cultura e das artes pelas forças financeiras e da mass midia. Tomados por essas potências caminhávamos pelas ruas do Bexiga em volta do teatro, convidando a todos a participar da festa. Entre nós, Zé Celso, sua vitalidade, sua alegria, seu excesso, sua desmesura ...

Caminhamos para o teatro. Zé Celso nos fez ver o espaço no qual íamos entrar. A entrada, aberta a qualquer um, possibilitava que crianças das imediações, mendigos, transeuntes pegos de surpresa, e que tinham sido arrastados pela passagem do “Bloco Oficina” pelas ruas do Bexiga, estivessem presentes na comemoração. Juntos brindamos, cantamos juntos, bebemos juntos. Atores históricos do Oficina estavam presentes. Uma grande emoção atravessava a todos.

Presente também estava ele. Ele que não estava no script. Ele, que se metia no meio dos “históricos” do teatro e que se apossava, como eles, de uma garrafa de vinho, colocada ali para ser compartilhado com o público. Ele aplaudia entusiasticamente, tentava se “enturmar” com o povo do teatro, mas sua presença ali denotava uma pequena incongruência. Todos se perguntavam, “quem é aquele ali?” A certa altura Marcelo Drummond se exaltou e quis tirá-lo a força. Zé Celso interferiu: - “Deixa.... deixa.... é o Exu da hora”.

Ele estava bêbado? Ele era louco? Ele estava absolutamente tomado pelo espaço do teatro. Era uma pequena incongruência instalada no acontecimento. Pequena mesmo, bem menor que um tocador de tuba numa apresentação de quarteto de cordas, como nos propôs imaginar certa vez Luís Fernando Veríssimo1. Tão pequena que alguns se perguntavam: “Fará parte do grupo de atores? Será amigo de alguém?” Ele aplaudia quando não é para aplaudir, e expressava em alto e bom tom, quando solicitado a silenciar, “Mas eu adorei demais! Foi maravilhoso!”

Ele estava tomado pelo vinho, por Baco, pela alegria, pelos deuses do teatro, por Exu.

Estávamos assistindo ao ensaio aberto de trechos de Os Sertões. O Oficina tematizava o cerco sofrido pelos seguidores de Antônio Conselheiro no sertão da Bahia. Tematizava também o cerco que sofre o Oficina no centro de São Paulo. Ele encarnava um outro cerco, um cerco sem lugar, sem centro e por toda parte. Ele incomodava. Por que incomodava tanto? Por que mobilizava tanto os atores, que tentavam tirar-lhe a garrafa de vinho e tirá-lo dali? Ele interferia na programação do dia, quebrando o ritmo do espetáculo, deixando os atores sem saber o que esperar, sem poder se programar. E pior, não sabia o seu lugar. Falava quando era a vez dos atores e falava também quando era a vez do público. Não respeitava as regras de interação no teatro. Ele, com certeza, era um elemento de desestabilização. Ele era perturbador.

Em cena, a prefeita Marta conversava com os representantes do Oficina sobre a construção do Shopping Silvio Santos no Bexiga. A atriz que representava a prefeita, encontrou uma saída bem ao gosto dos trabalhos do Oficina: passou por ele e beijou-o na boca. Ele ficou extasiado, com muito tesão e quando o beijo terminou e ela o soltou podíamos ver-lhe ainda a língua em busca da boca da atriz. A partir daí, ele se sentiu convidado a participar da cena como protagonista e aceitou o convite, se instalando na cena e instaurando um verdadeiro acontecimento. Postou-se ao lado da “Marta da hora”, um pouco atrás; cruzou os braços, como um segurança, um companheiro, um amante? Estava em cena; no centro da cena; deste lugar seria retirado do teatro numa solução, para muitos, absolutamente cênica, que parecia resolver toda a contradição trazida por sua intervenção. O acontecimento ficava, assim, reduzido a uma questão técnica.

Há alguns anos atrás eu presenciei, neste mesmo teatro, uma atriz sentar-se ao lado de um “espectador”, enfiar a mão dentro da sua calça, enquanto ele teso, rijo, não de tesão, era a mais pura expressão do constrangimento. Situações em que, no encontro entre elenco e público, este último fica em extrema desvantagem em relação ao primeiro, pelo incômodo com a situação de exposição em que é colocado, sem ferramentas para manejá-la, sem a possibilidade de criar a partir da proposição que vem da parte daqueles que estão autorizados a criar.

Ele aqui, neste dia, não ficou nada constrangido; gostou, queria mais. Aceitou a proposição e quis jogar. Mas estava sozinho. Sua falta de cerimônia para com os atores (a mesma que eles oferecem ao público) talvez tenha deixado a todos no teatro bastante constrangidos e ansiosos para encontrar uma solução que eliminasse aquele incômodo, que ia crescendo pouco a pouco, para que a apresentação pudesse continuar.

A “Marta da hora” encontrou a solução tão esperada: chamou os “seguranças” e pediu, pediu não, ordenou que retirassem o “elemento” por “desacato à autoridade”. Ele foi agarrado pelo pescoço por dois atores-seguranças, mas não se entregou facilmente. Se debateu, chutou, estrebuchou até passar pelos portões vermelhos do teatro, quando não pudemos mais vê-lo. Toda a cena era acompanhada pelo coro da platéia que gritava “Tira, tira”, numa unanimidade que dava arrepios. (Como se não houvesse nenhuma contradição naquilo que estávamos vivendo ali.)

Mas, ao tentar travestir de cênica a expulsão de uma pessoa do público, os atores não conseguiram encobrir a violência da atitude, deixando claro, no cruzamento entre ficção e realidade, que o que estavam fazendo ali tinha um paralelo óbvio com a posição tomada pela prefeita no embate entre Oficina e Silvio Santos e, na cadeia das analogias então propostas, com a ação do governo federal em relação a Canudos. A solução mais fácil para uma situação extremamente complexa: excluir, varrer, apagar o elemento disruptivo, incongruente, desestabilizador, incômodo.

Atônita, eu não conseguia mais acompanhar o que se passava ao meu redor, o desenrolar das cenas diante dos meus olhos. Meu corpo tinha sido tomado por um estado de torpor. Uma grande tristeza, enfim, de o Oficina não ter conseguido levar até o fim, radicalizar, sua proposta de teatro. Não ter aceito o desafio do acontecimento, não ter navegado, um pouco que fosse, na linha sutil que o acontecimento propunha, não ter aceitado o convite de embarcar na viagem de um teatro no qual não se sabe mais quem é ator e quem é público, quem, no final das contas, está autorizado a criar. Talvez se, ao invés de terem agarrado o espectador pelo pescoço, se tivessem deixado agarrar pelo pescoço por essa impossibilidade que se fazia ali ....

Em cena uma quadrilha. Os atores convidavam o público a dançar, mas agora este era quase um convite à infantilização. Será só este estreito espaço que somos convidados a ocupar neste teatro que parecia tão grande, tão generoso? Não ousaríamos mais ousar ou ir mais longe. Talvez os atores, alguns muito novos, não tenham sabido jogar com um espectador sui generis. Um outrem que, levando ao limite o questionamento dos lugares no teatro, colocou em questão a própria proposta de trabalho do Oficina, pautada na desmesura, no arrebatamento, no tesão. Esse encontro não foi qualquer coisa. Criou um acontecimento, instalou um grande mal-estar e instaurou uma ruptura no evento. Alguém tinha sido expulso pelo pescoço para fora do Teatro Oficina. Algo do brilho radical do teatro de Zé Celso se esvanecia ali.

Mas, se ao invés de negado, esse mal-estar tiver sido acolhido, um processo de produção de alteridade no próprio seio deste teatro, provocado pelo encontro com esse outrem, poderá ainda estar em curso. Talvez este acontecimento tenha produzido efeitos insuspeitos, levando essa forma de fazer teatro, tão viva e criativa, a se perguntar pelos limites de sua própria proposição e pelo que está para além desses limites. Qual é o lugar do público neste teatro e até onde ele pode ir? Quanto do encontro com o público esse teatro pode suportar e como fazer desse encontro um disparador de diferenciação, seja no público, seja nos artistas, seja no próprio teatro. Como a potência criadora que está nas mãos dos artistas pode ser compartilhada provocando nos espectadores um estado-de-arte?

Rubens Corrêa disse certa vez que se ele tivesse que elencar três dos grandes momentos de sua vida, um deles seria a apresentação do espetáculo Artaud para os internos do Hospital Psiquiátrico Pedro II, no Rio de Janeiro. Ele nos conta que a certa altura os espectadores começaram a se aproximar, subiram ao palco e construíram o que ele chamou de “um espetáculo realmente artaudiano”2. Esses momentos são únicos, raros, quase sublimes. São momentos de contaminação em que experimentamos a força de um processo de criação em ato.

Antônio Conselheiro, fanático, louco, visionário, foi morto, seu sonho sepultado, seus seguidores dizimados ....

Ele, bêbado, louco, chato, foi arrancado a força da platéia e do palco do Teatro Oficina. (Haveria uma solução melhor?)

Zé Celso, visionário, louco, criador genial, continua com sua trupe em seu teatro no Bexiga. Até quando? Esperamos que por muito tempo e de forma viva, aceitando e habitando as contradições e os paradoxos que qualquer proposta radical abriga; enfrentando as impossibilidades que se apresentam em experiências como esta, que apontam para os limites de uma configuração e que são elementos constitutivos do ato criador.

Afinal, como aprendemos com Deleuze, “se um criador não é agarrado pelo pescoço por um conjunto de impossibilidades, não é um criador. (...) sem um conjunto de impossibilidades não se terá essa linha de fuga, essa saída que constitui a criação”.


*Artigo publicado em Interface: comunicação, saúde, educação. Fundação UNI Botucatu/ Unesp, v. 6, n. 10. Botucatu:fundação UNI, 2002.
1 Veríssimo, L.F. (1981) “Recital” in: O analista de Bagé. Porto Alegre: L&PM Editores.
2 Rubens Corrêa in: Passetti, E. (roteiro, edição e direção). Encontro com pessoas notáveis n.º 1: Nise da Silveira. São Paulo: Fundação Cultural São Paulo / PUC-Cogeae, 1992. (vídeo)
3 Deleuze, G. (1992)Conversações. São Paulo: Editora 34, p. 167.


Extraído: Site Núcleo de Estudos da Subjetividade PUC/SP.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Que belo exemplo!


















"Beber é algo emocional. Faz com que você saia da rotina do dia-a-dia, impede que tudo seja igual. Arranca você pra fora do seu corpo e de sua mente e joga contra a parede. Eu tenho a impressão de que beber é uma forma de suicídio onde você é permitido voltar à vida e começar tudo de novo no dia seguinte. É como se matar e renascer. Acho que eu já vivi cerca de dez ou quinze mil vidas."

Charles Bukowski [1920-94]

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Mundo Livre S/A








Carnaval Inesquecível na Cidade Alta

do EP "Bêbado Groove" de 2005 pela Óia Records.

Encheu o tanque não deu em nada pois a partida tava enguiçada
Um empurrão
Caiu na lama quebrou a cara
Dormiu no chão
Logo em Olinda, cheirando a mijo
Levaram tudo, que maravilha!

A picardia
Que grande lição
Inclemente euforia, estrondosa frustração.

500 mil pessoas sem fazer nada, pulando no meio da rua
Gozando do próprio sofrimento
Centenas de milhares de idiotas
Que trabalham o ano inteiro
Pra gastar todo dinheiro nesses quatro dias...
Nesses quatro dias de folia programada

Encheu a lata ficou na mão
É bateria ou iguinição
Achou alguém
Caiu no conto foi assaltado

Que animação
Levaram tudo deixando apenas a nostalgia do amor próprio
A picardia
Suprema lição, ruidosa folia, retumbante solidão.


segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Existe Poesia?




















Adultos Vladmir Maiakóvski
(Tradução de Haroldo de Campos)

Os adultos fazem negócios.
Têm rublos nos bolsos.
Quer amor? Pois não!
Ei-lo por cem rublos!
E eu, sem casa e sem tecto,
com as mãos metidas nos bolsos rasgados,
vagava assombrado.
À noite
vestis os melhores trajes
e ides descansar sobre viúvas ou casadas.
A mim
Moscou me sufocava de abraços
com seus infinitos anéis de praças.
Nos corações, nos relógios
bate o pêndulo dos amantes.
Como se exaltam as duplas no leito do amor!
Eu, que sou a Praça da Paixão, (1)
surpreendo o pulsar selvagem
do coração das capitais.
Desabotoado, o coração quase de fora,
abria-me ao sol e aos jactos d’água.
Entrai com vossas paixões!
Galgai-me com vossos amores!
Doravante não sou mais dono de meu coração!
Nos demais - eu sei,
qualquer um o sabe -
O coração tem domicílio
no peito.
Comigo
a anatomia ficou louca.
Sou todo coração -
em todas as partes palpita.
Oh! Quantas são as primaveras
em vinte anos acesas nesta fornalha!
Uma tal carga
acumulada
torna-se simplesmente insuportável.
Insuportável
não para o verso
de veras.

(1) Antiga praça de Moscou, atual Praça Púchkin.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Toquei Viola pelo Maluco




















O que passou, passou

Antigamente, se morria
1907, digamos, aquilo sim
é que era morrer.
Morria gente todo dia,
e morria com muito prazer,
já que todo mundo sabia
que o Juízo, afinal, viria,
e todo mundo ia renascer.
Morria-se praticamente de tudo.
De doença, de parto, de tosse.
E ainda se morria de amor,
como se amar morte fosse.
Pra morrer, bastava um susto,
um lenço no vento, um suspiro e pronto,
lá se ia nosso defunto
para a terra dos pés juntos.
Dia de anos, casamento, batizado,
morrer era um tipo de festa,
uma das coisas da vida,
como ser ou não ser convidado.
O escândalo era de praxe.
Mas os danos eram pequenos.
Descansou. Partiu. Deus o tenha.
Sempre alguém tinha uma frase
que deixava aquilo mais ou menos.
Tinha coisas que matavam na certa.
Pepino com leite, vento encanado,

praga de velha e amor mal curado.
Tinha coisas que têm que morrer,
tinha coisas que têm que matar.
A honra, a terra e o sangue
mandou muita gente praquele lugar.
Que mais podia um velho fazer,
nos idos de 1916,
a não ser pegar pneumonia,
e virar fotografia?
Ninguém vivia pra sempre.
Afinal, a vida é um upa.
Não deu pra ir mais além.
Quem mandou não ser devoto
de Santo Inácio de Acapulco,
Menino Jesus de Praga?
O diabo anda solto.
Aqui se faz, aqui se paga.
Almoçou e fez a barba,
tomou banho e foi no vento.
Agora, vamos ao testamento.
Hoje, a morte está difícil.
Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
Agora, a morte tem limites.
E, em caso de necessidade,
a ciência da eternidade
inventou a criônica.
Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica.

já me matei faz muito tempo














já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo
morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma
morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma


in Paulo Leminski.
Série Paranaenses nº 2, reunião de entrevistas e resenhas. Scientia et Labor, Curitiba, 1988, p. 7

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Juiz de fora


















“Nosso sofrimento começou com o primeiro navio que chegou ao Brasil." (Wayrotsu, povo Xavante)

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Passando em branco

















O MENINO EXPERIMENTAL

O menino experimental come as nádegas da avó e atira os ossos ao cachorro.

O menino experimental futuro inquisidor devora o livro e soletra o serrote.

O menino experimental ateia fogo ao santuário para testar a competência dos bombeiros.

O menino experimental confessa-se ateu e à-toa.

O menino experimental repele as propostas da prima de dezoito anos chamando-a de bisavó.

O menino experimental escondendo os pincéis do pintor e trancando-o no vaso sanitário, obriga-o a fundar o pop art, única saída para o impasse.

O menino experimental ensina a vamp a amar. Dorme com o radar debaixo da cama.

O menino experimental despede a televisão, “brinquedo para analfabetos, surdos, mudos, doentes, antinietzsches, padres, podres, croulants.

O menino experimental atira um granada em forma de falo na mãe de Cristóvão Colombo, sepultando as Américas.

Fragmento, Murilo Mendes.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Di Melo - Di Melo 1975

















Único disco do cara. Desconhecido, pernabucano e com parcerias nesse disco de músicos como Hermeto Pascoal. Vale a pena mesmo a título de curiosidade.


Músicas:

1 .Kilariô (Di Melo)
2. A vida em seus métodos diz calma (Di Melo)
3. Aceito tudo (Vidal França - Vithal)
4. Conformópolis (Waldir Wanderley da Fonseca)
5. Má-lida (Di Melo)
6. Sementes (Di Melo)
7. Pernalonga (Di Melo)
8. Minha estrela (Di Melo)
9. Se o mundo acabasse em mel (Di Melo)
10. Alma gêmea (Di Melo)
11. João (Maria Cristina Barrionuevo)
12 .Indecisão (Terrinha)

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terça-feira, 23 de setembro de 2008

Sacanagem














Florais de Bach,
Deus Baco ou
Bakunin
Ainda não decidi.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

O sonho te acalma
















Hoje o dia chove ao seu lado
mas no ano que vem. Tudo
vai dar certo
não estará com os pés
molhados
ou mesmo nas fotos
dos que serão lembrados

você sabe não deve
perseguir o insano.
se aprofundar
num ambiente estranho
Quando vai entender
Só irá se dividir
e implantar a confusão
E quem vai se entregar?
o pasto vai estar lá
na paciência de quem
se alimenta do verde.
Hoje vai nascer
Deixar de ser sonho
queira desconhecer
E ouvir o grande estrondo
ou as luzes todas em você.

Tenha medo do seu sono
pois ele vai te acalmar.
E será o grito que deixou
de existir.
Agora mais dois tragos e
Tudo se apaga outra vez

domingo, 7 de setembro de 2008

Fórceps












Foi no desespero de uma manhã de domingo que a mãe sentiu as dores do parto e o pai acelerou o Corcel II até o hospital. A partir daí surgiu o primeiro conflito, os médicos lutavam para tirar a criança, e ela por opção esforçava-se para não fazer parte deste mundo. Foi necessário o fórceps que sem surtir efeito foi substituído pela cesárea. O pequeno iniciante na arte do sofrimento gritou, gritou, gritou como nunca haviam escutado naquela maternidade.

Este lugar foi alcançado na última sessão de regressão. Após alguns meses de terapia, consegui dar sentido a rejeição pela carne (animal), pelo mundo (sociedade), pelos humanos (indivíduos). Simplificando, desde então dei nome a misantropia que já vivenciava. A vida tomou outro sentido, ou novas sublimações surgiram. Entendi porque era tão diferente, as vezes considerado excêntrico, estranho, esquisito. Vi que meu amigo buscava uma verdade que eu não podia oferecer pois não sabia que tinha conhecimento dela. Continuo não acreditando em quase nada e vejo que esta é uma postura menos ofensiva, e a única certeza que possuo. Conforta-me saber que o filho do terapeuta faz judô as custas das minhas sessões.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Galo de Briga - Intermitências da Morte
















O coração do frango nasce programado para deixar de funcionar em sessenta dias. A sua carne é forte e suja, saborosa e cancerígena, útil como a sacola plástica do supermercado. Presta um valoroso serviço a sociedade, limpar o mundo! O humano suja, o frango anabolizado mata o desgraçado! Mas em doses homeopáticas. Um cancerzinho aqui, outro acolá e segue assim sua trilha de vingança em nome dos empenujados partidos pelo cutelo. Pois é, infelizmente a astúcia humanóide surpreende a cada dia, pra evitar o comprometedor assassinato em massa inventaram o coração com prazo de validade. O serviço sujo ficou por conta do enfraquecido coração galináceo. Mas a vingança é um prato que se come frio, opa! que se come quente.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Roquezinho Adolescente #02












Muito Longe

Acreditaram nesses caras alheios a luta
Numa conduta promiscua descompromissada
Colocando em risco gerações futuras
A memória popular vive ao esquecer
Imóveis ao tempo, inertes
Manipulados pelo falso poder
A máquina humana gananciosa de expert's
Espertos de mais para serem brasileiros
Em venderem nossa alma ser que percebamos
Pois estávamos ocupados com o divertimento
E todas as migalhas esmoladas pelos coronéis, do governo

Assim se passaram os tais 500 anos
Do tal descobrimento
Para celebrar toda ignorância que criamos

Reservas são de madeiras asiáticas
O índio e sua cultura esmagada entre a modernização
Esse regime maldito conduzido por tecnocratas
A 4° guerra mundial é chamada globalização
É a que deixara o maior número de vítimas
40 milhões já vivem hoje no Brasil
Fora do contexto simplesmente foram excluídas
A paz e a dignidade para estas pessoas está bem distante
Longe, muito longe...

Assim se passaram os tais 500 anos
Do tal descobrimento
Para celebrar toda ignorância que criamos

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Eu tenho uma camiseta escrita eu te amo













Hoje enquanto revirava velharias em casa encontrei uma caixa com correspondências. Uma parte delas me chamou a atenção pois era de um namoro da adolescência. Daí decidi colocar aqui uma carta escrita por minha ex-adolescente logo após nosso namoro a distancia ter ido pro espaço.

“---------, o dia e o ano não importam

Olá Pablo Petro, estou escrevendo para corrigir, ou melhor, refazer sua primeira carta.

Então seguem vários pensamentos aos quais você havia dado o nome de: Alternâncias de amor e desabafos de uma noite quente.


Refazendo...


Alternâncias de um relacionamento e desabafos de uma noite triste:

A explosão

A conclusão

O show

O passeio

O desejo

O arrependimento

A admiração

A despedida

‘A explosão’

Pra começar, não poderia imaginar que ao encontrar uma pessoa tão maravilhosa (sendo algo muito difícil nesta vida) acabaria de uma forma muito, muito, mais muito mesmo, Bum!!!

‘A conclusão’

Quando alguém encontra aquilo que sempre sonhou logo percebe que o que é bom não dura pra sempre (isso é uma nova conclusão pra mim), pois logo se percebe que as pessoas que lutam por aquilo que amam são a minoria.

‘O show’

Onde o protagonista foi apenas você.
Prefiro não escrever mais nada a respeito, pois não sei o que aconteceu.
Talvez, se estivéssemos juntos essa alternância seria mais uma continuação de um show inesquecível.

‘O passeio’

Quem diria que todo aquele tesão e combinação entre eu e você de mãos dadas, o que parecia tudo o que precisávamos para esquecer de tudo, hoje não passa de um orgulho bobo de ambos, que serviu apenas para nos aproximar do destino medíocre que reservamos para nós mesmos.

‘O desejo’

Não quero acreditar que somos vítimas do destino e que a ironia nos levou ao mesmo lugar onde um dia nos desejamos, e que bem ali, o oposto aconteceu. [a relação começou na mesma localização geográfica onde acabou]

É onde surge...

‘... O arrependimento’

Onde entre os espaços do silêncio, não tivemos coragem de nos redimir e voltarmos a ser felizes.

‘A admiração’

Você sabe como encantar as pessoas, não foi a toa que me encantei por você... Já estava cansada de clones, imitações baratas que as pessoas fazem umas das outras. O excepcional apareceu. Você com seu jeito simples e único.

‘A despedida’

Bem, esta alternância fica restrita.
Pois, pra duas pessoas que juraram terem encontrado a pessoa de suas vidas, não acredito que essa palavra (despedida), aparentemente tão definitiva, faça parte da história de ambos...

Com saudades... --------- -----”

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Flores na Janela











Pode se supor que a vida ainda é bela
Que aqui há muito amor e há flores na janela
Pode se supor que a paz agora existe
E que neste lugar ninguém está mais triste

Pode se supor que há vida em outros planetas
E comunicações sempre serão feitas
Pode se supor que você bebe um trago
De vinho do Porto com José Saramago

Pode se supor que todas as pessoas
Estão com seus amigos e nada as magoa
Pode se supor que é seu dia de sorte
Você ver a um cão parecido o Thom York

Pode se supor que agora nestes dias
Iremos ser felizes! Simples utopias

A imaginação é mais importante
Que o conhecimento

A imaginação é mais importante
Que o conhecimento

domingo, 13 de julho de 2008

A peça velha










Noite fria, coração vazio e vontade de fugir. Não deu outra, sai de casa com o velho chapéu de vime na cabeça rumando pra cidade velha. Entrei no antigo cinema que agora é um teatro todo redecorado cheio de figuras que buscam singularidade.
Subi as escadas que levavam a antiga sala de projeção e fui acomodar-me nas poltronas superiores. De lá, vi o grande palco pronto pra encenar "A Perfeição Perdida" de um autor desconhecido, mas bem sacado. Os atores eram jovens e prematuros mais caiam muito bem na seqüência das cenas. Eram sujos, inocentes, mas sinceros. Percebia-se que vinham da rua. Possuíam toda a malícia dos que passaram fome e a placidez do bem alimentados. Papéis de anjos caídos são velhos e ultrapassados, mas na pele daqueles garotos retomavam vigor e impressionavam por ser cru.
A montagem como um todo era bizarra, e parecia adequada a proposta. O paraíso é realmente uma idéia defasada e a perfeição só existe nos olhos do iludidos. Revivi, alimentei o espírito e continuei caminhando.
Seis anos depois passo em frente ao velho cinema agora teatro e vejo a mesma "A Perfeição Perdida" em cartaz. Novamente subi as escadas e aproximei ao máximo da antiga poltrona.
Vi os mesmos atores com os mesmos truques sacados, os mesmos jogos simples, mas envolventes, a mesma sensualidade promiscua. Descobri que pouco basta pra um bom estado de espírito. Tomei um porre com os desgraçados no final da peça e concluímos que aquela estória pode ser repetida por quem sabe 2000 anos.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Trópico de Câncer














"Hoje estou cônscio da minha linhagem. Não tenho necessidade de consultar meu horóscopo ou minha carta genealógica. Nada sei do que está escrito nas estrelas ou em meu sangue. Sei que provenho dos fundadores mitológicos da raça. O homem que leva a garrafa aos lábios, o criminoso que ajoelha na praça do mercado, o inocente que descobre que todos os cadáveres fedem, o louco que dança com o raio na mão, o frade que ergue a saia para mijar sobre o mundo, o fanático que rebusca bibliotecas para encontrar o Verbo - todos esses estão fundidos em mim, todos esses fazem a minha confusão, meu êxtase. Se sou inumano é porque meu mundo transbordou de suas fronteiras humanas, porque ser humano parece uma coisa podre, triste, miserável, limitada pelos sentidos, restringida pelas moralidades e pelos códigos, definida pelos lugares-comuns e ismos. Eu derramo o suco da uva na minha garganta e encontro nele sabedoria, mas minha sabedoria não nasce da uva, minha embriaguez nada deve ao vinho
..." Trópico de Câncer, Henry Miller